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01/04/08

BATALHA ESTRATÉGICA

Manuel Joaquim

Batalha de Kursk (Julho de 1943)


Há quem diga que se acabou de instalar na Europa o primeiro estado da Nato. O presidente da República tem-se manifestado e alertado a opinião pública e os restantes órgãos de soberania sobre os riscos do seu reconhecimento político. E quando fala de riscos, obviamente que fala de riscos para Portugal e para o mundo. Riscos políticos, sem dúvida, mas também dos riscos que estão associados e que são de ordem económico-financeira, material e patrimonial, de saúde e de vidas, pois Portugal faz parte da Nato e tem soldados no local. A Periscópio, em número anterior, publicou um texto sobre o Kosovo que vale a pena ler. Desde o fim da 2ª guerra mundial, pode-se dizer, a Europa esteve em paz. Agora a Jugoslávia foi destruída à bomba para nos seus bocados serem instaladas estrategicamente bases militares com determinados objectivos. A opinião pública mundial foi preparada pela opinião publicada dos grandes interesses em presença. Para não reagir a essa acção. Por enquanto, a situação encontra-se em lume brando. Mas será que naquele local se aproxima algo de muito importante, estratégico, que venha a alterar o rumo dos acontecimentos na Europa?

Há acontecimentos históricos que, de facto, alteram o rumo da História, apesar da generalidade das pessoas não lhe darem tal importância pelas mais variadas razões. Quando se fala da 2ª guerra mundial e das suas batalhas, não se dá grande importância à batalha de Kursk, quando, estrategicamente, foi da mais alta importância para a derrota dos exércitos nazis e para o fim da guerra passado algum tempo. Para a derrota dos franceses no Vietname e o fim da ocupação foi a batalha de Dien Bien Phu.

Na guerra de Angola, que nos diz particularmente respeito, tanto pela nossa intervenção como pela ingerência de muitos interesses de portugueses, na guerra colonial, no processo de independência, na guerra civil e na intervenção estrangeira, deu-se uma guerra, que fez 20 anos, no passado dia 23 de Março, que foi determinante para alterar o rumo dos acontecimentos na África e no mundo e que a opinião publica desconhece porque a opinião publicada nunca lhe deu qualquer interesse. A batalha de Cuito Cuanavale que teve a intervenção dos exércitos de Angola, de Cuba e do movimento armado da Swapo, da Namíbia, dum lado, e do exército da África do Sul, da Unita e dos EUA, do outro, determinou o fim do regime racista da África do Sul, a independência da Namíbia, o fim da guerra civil em Angola e alterações significativas em muitos países da região. O material de guerra utilizado nesta batalha foi incomparavelmente superior ao utilizado na batalha de Estalinegrado. Esta batalha nunca tinha sido comemorada até agora. Foi comemorada este mês por iniciativa das autoridades angolanas com altas representações de todos os interveninentes. A opinião pública nada sabe porque a opinião publicada praticamente nada disse.

As guerras no Iraque e no Afganistão, depois dos anos que já passaram desde o seu início, continua em lume forte, apesar de ser cada vez mais escassa a informação. Mas as preocupações cada vez maiores manifestadas pelos governantes dos países responsáveis, entre os quais se encontram portugueses, que não podem diluir as suas responsabilidades políticas e pessoais, devem merecer a nossa atenção. Há poucos dias, na Assembleia da República, foi votada uma proposta contra a guerra no Iraque. Vale a pena ver quais foram os grupos parlamentares que votaram favoravelmente a proposta. Até agora, não aconteceu nenhuma batalha que possa ser considerada estratégica, apesar da intensidade actual da guerra. Entretanto, é cada vez mais visível que estas guerras estão a derreter os EUA e a causar a crise financeira, económica e social em que se encontram os EUA, os seus apaniguados e o mundo. Um Prémio Nobel da economia, americano, que foi alto dirigente do Banco Mundial e do governo dos EUA e recentemente consultor na área de economia de Zapatero, escreveu que a crise actual deve-se à guerra do Iraque.

Será que a batalha estratégica que vai levar à inevitável fuga dos americanos e dos seus aliados, incluindo os portugueses, deixando pelo caminho milhares de mortos, estropiados e feridos e à derrota do imperialismo, vai dar-se quando estiverem exangues ou vai dar-se em resultado de outros acontecimentos? Essa batalha será só estratégica para a derrota do imperialismo na guerra ou será estratégica para a derrota do imperialismo na região?

Em 2006, Israel iniciou uma guerra contra forças políticas do Líbano, lideradas pelo Partido Hezbulá, da qual saiu militarmente derrotado, conforme é confirmado pelas suas próprias entidades oficiais. Acontecimento que surpreendeu muita gente pela capacidade evidenciada por aquelas forças libanesas. No passado mês de Fevereiro, governantes dos EUA percorreram vários países do médio oriente e pronunciaram-se sobre a situação no Líbano a pretexto de não conseguir eleger novo governo, naturalmente da confiança dos EUA e de Israel. Em 12 de Fevereiro passado, Israel assassina o segundo dirigente do Hezbulá em território da Síria. Entretanto, nas costas marítimas do Líbano são fundeados grandes navios de guerra dos EUA. A população do Líbano prepara-se para a guerra. Israel prepara a população para a guerra. Acabou nestes dias o luto de 40 dias pela morte do dirigente assassinado. Há quem tema que os militares e dirigentes israelitas pretendem desforrar-se da derrota militar de 2006. Será que também ali se desenvolvem acções que levem a uma batalha estratégica com consequências controladas ?

As guerras são a expressão última da luta de classes que podem ter expressão mundial. Mas as suas consequências são desastrosas, directa e indirectamente, para milhões e milhões de pessoas durante dezenas e dezenas de anos e por várias gerações.

Tudo isto vem a propósito de meditar na vida de alguns amigos que frequentaram comigo a escola primária e que indirectamente foram vítimas da 2ª guerra mundial apesar de Portugal, formalmente, não ter participado.


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1 comentário:

Anónimo disse...

me ajudou na lição..
valeu

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