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01/05/08

50 PALAVRAS

António Mesquita


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"As unhas estão pretas. As palavras mudam pouco, o vocabulário em situações extremas não é composto por mais de 50 elementos."

"Um homem: Klaus Klump" (Gonçalo M. Tavares)



Este jovem autor é oracular, às vezes. Numa frase diz tanto como no melhor dos versos.

Aqui fala da guerra, por excelência, a situação extrema. E podia-se ser mais contundente do que com aquele número terrível?

Mas se a riqueza do vocabulário exprime a complexidade da vida, as nuanças dos sentimentos e o pensamento mais elaborado, não se segue que aquilo a que chamamos de simplicidade não o exprima também, embora com outros meios que não os linguísticos. Esta diferença define talvez uma civilização.

Com os milhares de vocábulos que temos mais do que o camponês da Idade Média a "simplicidade" tem de ser traduzida. Precisamos dessas palavras para compreender um mundo que já nada tem a ver com o do feudalismo.

Porém, a ideia de Gonçalo Tavares não é menos pertinente.

Há também em relação àquele camponês uma experiência que equivale à redução a 50 palavras.

O mundo atrofia-se quando as palavras já não aparecem na boca das pessoas. É a altura das simplificações assassinas, das divisões cismáticas, dos anátemas sem perdão.

As organizações, porque querem ser forças, começam por criar uma língua própria, com pouco mais de 50 elementos.

Mas a tecnologia confronta-nos com outro desafio. Ao mesmo tempo que nos põe a todos em contacto fácil e quase instantâneo, recorre cada vez menos às palavras e menos também à língua materna, em favor do básico internacional.

Por isso o mundo se estreita sob dois impulsos irresistíveis: o da velocidade das comunicações e o da morte das palavras.


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