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01/04/08

OMAR KHAYYAM

(Recolha de Dina La-Salette)

Omar Khayyam


Bebe vinho! Receberás vida eterna.
O vinho é o único filtro que pode restituir-te a juventude.
Divina estação das rosas, do vinho e dos amigos sinceros.
Goza este fugitivo instante que é a vida.

Quando nasci? Quando morrerei?
Nenhum homem pode evocar o dia do seu nascimento e designar o da sua morte.
Vem, minha dócil bem-amada!
Eu quero pedir à embriaguez que me faça esquecer
que nunca saberemos nada.

Emanará do meu túmulo um tal aroma de vinho,
que os caminhantes ficarão embriagados!
Uma tal serenidade rodeará o meu túmulo,
que os amantes não poderão distanciar-se dele.

Uma vez que ignoras o que te reserva o dia de amanhã,
procura ser feliz, hoje.
Toma uma ânfora de vinho, senta-te ao luar e bebe
lembrando-te que, talvez amanhã, a lua te procurará em vão.

Como é vil o coração que não sabe amar,
que não pode embriagar-se de amor!
Se não amares, como poderás apreciar
a deslumbrante luz do sol e a doce claridade do luar?

Bebe vinho, porque dormirás longamente sobre a terra,
sem amigos, sem mulher.
Confio-te um segredo: as túlipas fanadas não voltam a florir.

Quando a brisa da manhã entreabre as rosas
e lhes murmura que as violetas já abriram as suas vestes,
apenas é digno de viver aquele que contempla
o sono de uma esbelta rapariga,
toma a sua taça, esvazia-a e lança-a fora.

Na Primavera gosto de me sentar na orla de um campo florido.
E quando uma rapariga me traz uma taça de vinho,
não me importa nada a minha salvação.
Se eu tivesse essa preocupação, valeria menos que um cão.

Ouço dizer que os amantes do vinho serão condenados.
Não há verdades, mas mentiras evidentes.
Se os amantes do vinho e do amor forem para o inferno,
deve estar vazio o Paraíso.

Cairemos no caminho do Amor.
O Destino há-de espezinhar-nos.
Ó rapariga, ó minha encantadora taça, levanta-te
e dá-me os teus lábios, esperando que eu me transforme em pó.

Quando eu deixar de existir, já não haverá mais rosas,
ciprestes, lábios vermelhos e vinho perfumado.
Não haverá mais alvoradas e crepúsculos, alegrias e dores.
O universo não existirá mais,
pois que a sua realidade depende do nosso pensamento.

Numa taberna, pedi a um velho
que me informasse sobre aqueles que morreram.
Respondeu-me:
”Não voltarão. É tudo o que sei. Bebe vinho!”.

O vinho possui a cor das rosas.
O vinho não é, talvez, o sangue da vinha, mas sim o das rosas.
Esta taça não é, talvez, de cristal, mas de azul do céu coagulado.
A noite não é, talvez, senão a pálpebra do dia.

Dizem-me: “Não bebas mais, Khayyam!”.
Eu respondo: “Quando bebo, ouço o que me dizem as rosas, as túlipas e os jasmins.
Escuto mesmo aquilo que não pode dizer-me a minha bem-amada”.

Se estás embriagado, Khayyam, sê feliz.
Se contemplas a tua bem-amada de faces de rosa, sê feliz.
Se sonhas que já não existes, sê feliz,
pois que a morte é o nada.

Cansado de interrogar, em vão, os homens e os livros,
eu quis interpelar a ânfora.
Pousei os meus lábios sobre os seus e murmurei:
“Para onde irei quando morrer?”
A ânfora respondeu: “Bebe na minha boca.
Bebe longamente. Jamais voltarás aqui”.

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