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01/05/09

PREVER O FUTURO

Mário Martins




É entusiasmante ler Kaku*. Depois de em 1997 ter publicado “Visões”**, em 2008 deu á estampa “A física do impossível”**. O que liga os dois livros é o facto de, em ambos, o autor fazer previsões sobre o que acontecerá no futuro próximo e longínquo em termos de ciência e tecnologia. Se em “Visões” Kaku explica o modo “como a ciência irá revolucionar o século XXI”, escalonando no tempo as descobertas e as tecnologias que se desenvolverão até ao ano 2020, entre 2020 e 2050, e depois de 2050 até ao fim do século, em “A física do impossível” vai mais longe, ao distinguir as tecnologias hoje consideradas impossíveis, mas que por não violarem as leis da física, poderão ser possíveis neste século, ou talvez no próximo, das tecnologias que se situam nos limites da nossa compreensão do mundo físico, as quais se chegarem a ser possíveis, poderão ser concretizáveis num horizonte de milhares ou milhões de anos, ou daquelas que, por violarem as leis da física conhecidas, se vierem a revelar-se possíveis, representarão uma alteração fundamental da nossa actual compreensão da física.

Mas como pode Kaku atrever-se a prever o futuro sem correr o risco de passar por charlatão ou mágico? Pelo seu conhecimento e estatuto científicos, certamente, mas sobretudo pelo facto de as suas previsões se apoiarem em várias dezenas de entrevistas a cientistas de topo nas várias disciplinas, que lhe deram a conhecer o que actualmente se passa nos laboratórios de investigação e a sua própria visão dos possíveis desenvolvimentos futuros.

Espero também não passar por charlatão se afirmar que, de certo modo, não só é possível como somos capazes de prever o futuro. Afirmações comuns como “logo à noite, por volta das 8, estarei a jantar”; ou “amanhã de manhã será dia outra vez”; ou, num nível complexo, as previsões meteorológicas, podem servir de exemplos de predição do futuro. Porém, o que, em rigor, fazemos não é prever o futuro mas sim afirmar a probabilidade, maior ou menor, de esses acontecimentos previstos ocorrerem. Por exemplo, a probabilidade de “amanhã de manhã ser dia outra vez” é de praticamente 100%, mas não estamos livres de um cataclismo cósmico nos roubar a luz do Sol e, com ela, a vida.

A ciência vai um pouco mais longe na predição do futuro já que nos diz que um dado fenómeno ocorrerá com certeza em determinadas condições. Mas não nos diz se essas condições ocorrerão. Kaku explica que a possibilidade de ver o futuro violaria a lei fundamental da causalidade, a lei da causa e efeito, já que os efeitos ocorrem depois da causa e não o contrário. Por isso, a precognição é das poucas coisas que ele considera que provocaria o colapso dos fundamentos da física moderna.



* Michio Kaku é professor catedrático de Física Teórica na Universidade de Nova Iorque e, na esteira do saudoso Carl Sagan, um grande divulgador de ciência.
** Editorial Bizâncio

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