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01/02/11

OS MITOS TAMBÉM SE ABATEM

Mário Faria
"O retrato de Dorian Gray"



Uma imensa maioria que inclui sábios, doutores, senadores, empresários, empreiteiros, sapateiros, modistas, marinheiros, polícias, magistrados, professores e indiferenciados, como o meu amigo Karaté Kid, considerou que a campanha presidencial foi pobre, suja e negra. Nunca esperei que pudesse ter sido muito diferente e sempre acreditei que o tom  dominante seguisse o guião de outras campanhas, entre os debates televisivos e as arruadas do costume. Nem o resultado foi surpresa. O pessoal (mais esclarecido) habituou-se a ouvir ópera e não conseguiu esquecer a excelência das campanhas anteriores.

Apesar de todos os defeitos declarados, entendo que esta campanha foi invulgarmente esclarecedora : manchou a pureza do candidato pré eleito e tirou da penumbra as travessuras ocorridas na Herdade da Coelha, mais  as trapalhadas com a compra e venda das acções da SLN, que o artista protagonizou sabiamente. O homem que mais vezes visitou a sala Oval,  se queixou de ser alvo de espionagem e fez aquele discurso de vitória inspirado pela vingança, perante as denúncias, murchou, calou-se, vitimizou-se, crispou-se e nada esclareceu. A bem da verdade, de que é representante exclusivo para Portugal, preferiu o silêncio. Um silêncio ensurdecedor e ameaçador. Não era o silêncio de um inocente.

Se Cavaco Silva na primeira legislatura cumpriu o cargo de forma convencional, estas eleições presidenciais, funcionam, de facto, como a primeira volta das legislativas. Não fora, assim, e a direita não estava tão preocupada em negá-lo. Este Governo está a prazo e à primeira oportunidade vai de vela. Há que cumprir a estratégia de há muito perseguida : uma maioria, um governo e um presidente, de direita, pois claro. E não podia vir em melhor altura, dada a situação de profunda crise e o facto da identificação dos culpados quase merecer a unanimidade. Cavaco Silva está preparado para o ajuste de contas, em defesa da verdade e a bem da nação.

Por razões políticas nunca fui apoiante de Cavaco Silva. Se calhar em função de alguma crueldade bem escondida nesta cabecinha, sempre o achei uma figura sinistra que me fazia recordar o Dorian Gray,  enquanto a teatralização da sua  imensa sabedoria  me transportava para Chauncey Gardner, personagem que Peter Sellers interpretou de forma genial no filme Being There.

A campanha para a presidência e a reeleição de Cavaco Silva, afinal, não correu mal de todo. O mito caiu do pedestal que construiu. Foi um tombo tremendo. Os danos estão por apurar. Para já está cheio de adesivos, mas  acho que tem feridas profundas. O tempo dirá se vai continuar (apenas) a ser insuportavelmente arrogante ou se vai ser pior : arrogante e armar-se em salvador da pátria. Saberemos em breve.


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