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01/06/11

MUROS RELIGIOSOS - O JUDAÍSMO

 Mário Martins
Estrela de David (Wikipedia)


“Quero compreender de maneira a que qualquer conceito inexplicável se me apresente como uma necessidade desta mesma razão e não como a obrigatoriedade de acreditar.”
Tolstói. A Confissão. 1879



O que separa, do ponto de vista doutrinário, as grandes religiões? Como fazem a ponte com o mistério da existência? Como explicam o mundo? Eis o que, para lá das razões históricas ou sócio-culturais, poderia rotular de viagem breve e com pouca bagagem a um mundo aparentemente unido pela crença, quase universal, num Deus único. Iniciemos a jornada pelo Judaísmo, essa religião já milenar ao tempo do advento do Cristianismo.

O aspecto central da religião judaica é, parece-me, o de que o povo judeu é o povo eleito ou escolhido por Deus; é o povo da Aliança e da Promessa. Da Aliança com Deus que, falando directamente com os seus patriarcas ou profetas, marca o seu destino:

“Estabeleço a minha aliança contigo (o patriarca Abraão) e com a tua posteridade, de geração em geração; será uma aliança perpétua…” Como sinal e recordação desta aliança, todos os machos deviam ser circuncidados aos oito dias de idade. *

E da Promessa:

“Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu te indicar.” Obedecendo às ordens de Deus, Abraão abandonou (há cerca de quatro mil anos) as terras férteis da Mesopotâmia com a família e o rebanho. Viajaram para norte e para ocidente, seguindo o fértil vale do Eufrates, em direcção à terra - Canaã, mais tarde conhecida por Palestina - que Deus prometeu aos descendentes de Abraão. *

Com estes comunicados divinos a um homem concreto, nascia um Deus maior, único, e criador. De acordo com os judeus ortodoxos, baseados nas narrativas bíblicas, a Criação aconteceu há 5768 anos:

“No princípio, quando Deus criou os céus e a terra…” A Bíblia continua, dizendo que Deus precisou de seis dias para levar a cabo a Criação, durante os quais criou o dia e a noite, a terra e a água, a erva e as árvores, o sol e a lua, “as grandes baleias e todas as criaturas vivas” - incluindo o gado - e o homem. “Deus criou o ser humano à Sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher.” Numa segunda versão da Bíblia Deus disse ao primeiro homem - cujo nome era Adão - que podia comer os frutos de todas as árvores, mas que não poderia comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. A razão que Deus deu foi que “no dia em que o comeres, certamente morrerás”. (…) Adão, porém, sentia-se só no meio das maravilhas da criação. Ao ver aquilo, Deus disse: “Não é conveniente que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele”. O Senhor Deus fez cair sobre o homem um sono profundo e enquanto ele dormia “tirou-lhe uma das suas costelas” e fez a mulher. Adão e Eva viveram no Jardim do Éden nus e desconhecedores do pecado até que uma serpente tentou convencer Eva a comer o fruto proibido da árvore do conhecimento do bem e do mal. Eva comeu o fruto e deu um pouco do fruto a Adão e, subitamente, tornaram-se ambos tão conscientes e envergonhados da sua nudez que se vestiram de folhas de figueira. Deus ficou muito desapontado por Adão e Eva lhe terem desobedecido e explicou a Eva as três consequências do seu acto - consequências que atingem todas as mulheres desde então. Deus “multiplicou” os seus sofrimentos, porque “entre dores darás à luz os teus filhos”. Eva procuraria apaixonadamente o seu marido, mas ele dominá-la-ia. Quanto a Adão, teria de trabalhar arduamente para conseguir o alimento da terra: “Comerás o pão com o suor do teu rosto”. Adão e Eva foram banidos do jardim - expulsos, diz-nos a Bíblia - e tiveram de ir para longe para cultivar a terra, mas não sem que antes Deus “os vestisse com túnicas de peles”. Deus também explicou que : “Eis que o homem, quanto ao conhecimento do bem e do mal, se tornou como um de nós”. *

Com a morte de David, por volta de 965 a.C., Salomão foi ungido rei. (…) Quando mais tarde os Judeus foram escravizados por outras nações - os Babilónios, os Helenos e os Romanos -, esperaram que Deus lhes enviasse um Messias: esta palavra, para os Judeus, significava um rei ungido que os salvasse da opressão, e acreditavam que o Messias seria um descendente do rei David. * 


* “Cartas à Tia Fori” (Os 5000 anos de história e fé do povo judeu), Martin Gilbert, 2002, Aletheia Editores, 2011

Obra também consultada: “As grandes religiões do mundo”, Direcção de Jean Delumeau, 1993, Editorial Presença, 2002.

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