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01/07/11

MUROS RELIGIOSOS (2) - O CRISTIANISMO

Mário Martins
Cristo crucificado - Diego Velázquez, 1632 (Wikipédia)

“Jesus é o filho do povo da Aliança e da Promessa (o povo judeu), mas rompe esses limites para se dirigir à humanidade”

                                                           Olivier Clément **

“Ele (Jesus Cristo) tomou o lugar do Outro (Deus)”
                                                                  
                                         Régis Debray *


O cristianismo é Jesus, em quem os cristãos reconhecem o Cristo, isto é, o “Messias”, o Ungido do Espírito, Palavra de Deus encarnada, o próprio Deus feito carne. (…) “Quem me vê, vê o Pai”, diz Jesus. **

Mas se Jesus preenchia (por parte da mãe Maria) o requisito, em que os judeus acreditavam, de o Messias ser um descendente do rei David, ele não se assume como um rei ungido que os salvasse da opressão. À pergunta de saber se “É lícito ou não pagar o imposto a César?”, Jesus olha para uma moeda e pergunta: - De quem é esta imagem? De quem é esta inscrição? - De César - respondem. - Muito bem - diz Jesus. - “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. ***

O cristianismo é uma certa maneira de compreender o homem, o sentido da sua vida, o seu destino (…) Nisto, completam-se e interferem uma antropologia, indicações éticas e uma doutrina da salvação. **

A antropologia cristã é, em grande parte, pré-cristã: é a que a experiência religiosa de Israel explicitou e que se exprime no mito, tão comummente conhecido como mal compreendido, dos relatos da Criação (abordados no artigo anterior). **

Estes relatos, pese embora às interpretações fundamentalistas, não são descrições históricas. São a expressão simbólica do que a experiência espiritual de Israel compreendera de essencial de um desígnio de Deus criador de todas as coisas. **

Essencial, a bondade do mundo: foi por amor que Deus se quis criador de todas as coisas. **

Inclui, ou gera, o cristianismo uma moral? A resposta é muito controversa (…) Contudo, toda a gente está de acordo em dizer que o Evangelho impulsiona um certo estilo de vida, que o crente se deve esforçar por viver uma “existência cristã”. **

«Ouvistes que foi dito: “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”. Eu, porém, digo-vos: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Fazendo assim, tornar-vos-eis filhos do vosso Pai que está nos céus; pois ele faz que o sol se levante sobre os bons e os maus» (Mt. 5, 43-45) **

«Ninguém pode servir a dois senhores, porque, ou há-de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas» (Mt. 6, 24) **

Como muitas outras religiões (como todas?), o cristianismo projecta-se numa comummente chamada salvação (…) De que é que, portanto, tem a humanidade necessidade de ser salva? Duas respostas principais se deduzem de toda a tradição cristã: o pecado, a morte. **

Deus, segundo a imagem que dele dá Jesus, não tem outro desígnio nem promulga outra lei que não seja chamar os homens a amá-lo amando-se uns aos outros. O pecado é o que contraria este desígnio, o que é recusa desta oferta. **

De uma maneira estranha, a Escritura liga a morte ao pecado. Principalmente no texto de São Paulo na epístola aos Romanos: «Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo e, pelo pecado, a morte…» (Rom. 5, 12) (…) Se é evidente que a realidade orgânica faz parte do mundo criado, o “morrer humano” é o que o homem, através da sua história colectiva, fez da morte, a maneira como ele a interpreta e a vive. É esse “morrer humano”, obra do homem, que São Paulo pode dizer que entrou na nossa história pelo pecado. **

(…) O mal é um dado da existência humana, quer individual, quer colectiva. Mal proveniente da natureza ou com origem na actividade dos homens (…) É do fundo dessa situação que, em todos os tempos, uma grande parte da humanidade (…) espera, deseja, pede, uma “salvação”. Na esteira do povo judeu, cuja experiência humana e religiosa é relatada pela Bíblia, os cristãos estão nessa espera. Mas a sua fé consiste em terem reconhecido que se abriu uma brecha naquela fortaleza do mal, que é proposta aos homens uma salvação na história concreta de um homem, que viveu na Palestina há vinte séculos, Jesus. **
Se o cristianismo é indubitavelmente universalista, paradoxalmente ele é a base em que assentam três grandes religiões ou igrejas: a católica, a ortodoxa e a protestante.


* “O fogo sagrado”, editora Âmbar, 2005
** “As grandes religiões do mundo”, Jean Rogues, Direcção de Jean Delumeau, 1993, Editorial Presença, 2002.
*** “A vida de Jesus (verdades escondidas)”, Michael Baigent, Editorial Presença, 2009

Pequeno léxico:
Jesus = Deus salva (em hebraico)
Evangelho = Boa nova



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