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01/12/11

MUROS RELIGIOSOS (6) O Islão


 Mário Martins
Meca (Wikipédia)


Nos textos anteriores abordamos os aspectos doutrinários principais que, de diferentes e demarcados modos, globalmente caracterizam e distinguem, em termos religiosos, a chamada civilização judaico-cristã. Agora, com o presente texto, entramos, respeitosamente descalços, noutro mundo civilizacional.

“Atesto que não há outro deus senão Deus e atesto que Muhammad (Maomé) é enviado de Deus” *

A adesão ao Islão reduz-se a esta profissão de fé (…) e o monoteísmo é, sem dúvida, a palavra fundamental do discurso do Islão sobre si mesmo *

Não existe povo a que Deus não tenha enviado um mensageiro, afirma o Alcorão (…) Entre esses mensageiros, apenas alguns podiam e deviam ser nomeados no Alcorão: são em número de vinte e cinco, nomeadamente os fundadores das (outras) duas religiões monoteístas, Moisés e Jesus, assim como alguns outros profetas do Antigo e do Novo Testamento. Diante deles, alguns outros nomes citados no Alcorão são nomes de profetas enviados especificamente aos Árabes, e que não encontramos mencionados na Bíblia: Sálih, Shu’ayb, Húd… (…) *

Homem entre os homens, Maomé nasceu no ano 570 da era cristã e morreu a 8 de Junho de 632. É, portanto, um personagem histórico. A pregação, que iniciou com a idade de quarenta anos, de modo algum pretende reivindicar para si outro estatuto que não seja o de “homem, enviado de Deus” (…) Mais, a aceitação da dimensão humana é reivindicada como uma condição da profecia monoteísta: “Não se admite que o homem a quem Deus deu o Livro, a sabedoria e o dom da profecia dissesse aos outros homens: ‘Sede os meus adoradores e não de Deus’” (Alcorão) *

Se as religiões do Livro (Judaísmo e Cristianismo), com as quais o muçulmano afirma ter tantas afinidades, possuem livros sagrados, esses textos apresentam-se como textos de inspiração divina. O Alcorão, em contrapartida, apresenta-se como um livro de “revelação” (…) *

O Alcorão, tal como todas as revelações, é uma chamada de atenção: as provas da existência de Deus que fornece estão já inscritas na criação e na ordem que preside ao universo criado. É significativo que o primeiro versículo revelado a Maomé seja o famoso: “Lê, em nome de teu Senhor, que criou”. Mas não menos significativo é ver que a chamada de atenção toma como tema o facto de que Deus é o Fátir, o criador integral, ex nihilo (a partir do nada), e que é o organizador da sua própria criação; assim, a obediência do universo (…) a certas leis, é apresentada, ao arrepio da argumentação de um Epicuro ou de um Lucrécio, (…) como uma prova da sua criação por Deus, pelo Deus único. *

(…) O Alcorão está omnipresente na vida de cada muçulmano. Está presente na educação da criança, a quem é ensinado desde a mais tenra idade. O Alcorão constitui a referência de todas as conversas, não apenas teológicas mas literárias. A sua leitura integral, khatm, é sempre, à letra, um “cumprimento”: celebra tantos os momentos fastos como os acontecimentos infelizes (…) *

As obrigações cultuais do muçulmano são muitas vezes designadas pela expressão “os cinco pilares do Islão”: a profissão de fé, a oração, a esmola, o jejum do mês de Ramadão e a peregrinação comunitária a Meca (sob condição de capacidade material e física). *

(…) Nessa cidade-encruzilhada (Meca), conheciam-se e reconheciam-se os adoradores de divindades múltiplas e variadas. Havia até uma espécie de modus vivendi que fazia com que se admitissem todos os seus ídolos num templo único, a Ka’aba (etimologicamente, “o Cubo”), objecto de uma veneração comum e de um culto comum. O respeito por esta “casa”, onde se encontrava a Pedra Negra, impunha-se a toda a gente e manifestava-se nomeadamente pela celebração de uma peregrinação anual (…) Eram usos imemoriais de tal modo institucionalizados, de tal modo ligados à organização e à administração da cidade que, paradoxalmente, até os defensores da crença no Livro, nomeadamente judeus e cristãos, pareciam ter-se acomodado a eles. E ao ponto de a Ka’aba abrigar, na ocasião em que Meca se rendeu ao Profeta, uma representação de Abraão e outra da Virgem com o Menino: vizinhas, pois, dos trezentos e tantos ídolos que lá se acumulavam. A sua presença indicava uma realista mas paradoxal “cohabitação”. *

A especificidade do Islão relativamente às outras religiões é, pois, o lugar que nele ocupa a fé na escala dos valores. O que pode explicar muitas grandezas. Tal como poderia, sem os desculpar, explicar muitos desvios: quando o acesso - ou o regresso - à fé não é acompanhado da consciência do caminho percorrido até lá e da compreensão por aqueles que não o percorreram. E, do mesmo modo, já não há fé quando a convicção de ser detentor da verdade legitima o desprezo por aqueles que não a detêm, quando o esforço no caminho de Deus leva a encarar como inimigos os que levantam, ou simplesmente são obstáculos. Tais erros são próprios de espíritos e almas que desesperaram da força de Deus. *



* “As grandes religiões do mundo”, Azzedine Guellouz, Direcção de Jean Delumeau, 1993, Editorial Presença, 2002.
PS: segundo a Wikipédia, o Islão ensina seis crenças principais:
  1. a crença em Alá (Allah), único Deus existente;
  2. a crença nos anjos, seres criados por Alá;
  3. a crença nos livros sagrados, entre os quais se encontram a Torá, os Salmos e o Evangelho. O Alcorão é o principal e mais completo livro sagrado, constituindo a colectânea dos ensinamentos revelados por Alá ao profeta Maomé;
  4. a crença em vários profetas enviados à humanidade, dos quais Maomé é o último;
  5. a crença no dia do Julgamento Final, no qual as acções de cada pessoa serão avaliadas;
  6. a crença na predestinação: Alá tudo sabe e possui o poder de decidir sobre o que acontece a cada pessoa.
Pequeno léxico:

Alcorão = (literalmente) “a Leitura”
Islão = (literalmente) “submissão a Deus”
Muçulmano = crente no Islão
Pedra Negra  =    Segundo a tradição, a pedra (possivelmente um meteorito), com cerca de 50 cm. de diâmetro, foi recebida por Abraão das mãos do anjo Gabriel (Wikipédia).



1 comentário:

Anónimo disse...

o islam é do diabo!

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