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01/10/13

LINCHAMENTO

António Mesquita
I

 

"Quando vejo um linchamento, defendo a pessoa que está a ser linchada. E quando vejo demasiadas pessoas de acordo em relação a um lugar-comum, começo a pensar que é suspeito."

(Daniel Innerarity no jornal 'Público' de 15/9/13)

A segurança é, talvez, a primeira necessidade. Sem ela, só os lobos prosperam. Mas como nada impede que no meio da insegurança geral, os lobos se organizem contra qualquer espécie de sociedade, as próprias feras têm de observar algum tipo de justiça entre elas, se a organização for para durar. É o que dizem todos os pactos de sangue.

É por isso que a pior das ditaduras é portadora, apesar de tudo, de alguma segurança, quando comparada com uma sociedade caótica, como seria aquela, provavelmente, que resultaria da intervenção americana na Síria. Já se provou que os 'justiceiros' não sabem como trazer de volta a segurança depois de afastado o tirano. Porque, só por si, a existência do ditador não é o sinal de que todos os males decorrem da ditadura. Ele é mais a imagem de um cancro social que só se exprime bem através da chaga putrefacta que ele representa.

Noutra passagem, Innerarity faz notar que a política, sempre necessária, não é uma escolha entre o bem e o mal, mas entre dois males. Se os políticos tiverem discernimento para decidirem pelo menor dos dois, cumprem com o seu dever.

Ninguém, por mais sábio, ou mais competente, pode deduzir o bem numa tomada de partido que só oferece consequências duvidosas e inconvenientes para qualquer das posições. Esse é o caldo para a nossa cultura política, em que todos parecem ter razão porque nenhuma proposta é 'pura'. Os mais doutrinários têm, por isso, a arrogância de quem possui uma estratégia para o futuro e um guia para a acção que só querem dizer alguma coisa para eles mesmos.

Quanto ao consenso, que é tão necessário para a paz como para a guerra, é difícil não estar de acordo com o filósofo basco. Os 'lugares-comuns' têm um prazo de validade. Na vida são apenas substituídos por outros lugares-comuns. Na época da comunicação instantânea, podem tornar-se perigosos. O pensamento por 'adesão' é mais afectivo do que racional. Não seria difícil, no termo duma bem preparada propaganda, obter um consenso 'electrónico' que equivaleria a um linchamento.

 

 

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