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01/02/14

LUPUS WALLSTREETENSIS

António Mesquita

 

O último filme de Scorcese é excessivo, 'fora do baralho' no seu cinema, e a nossa reacção depende de o entendermos como a caricatura de um mundo obsceno em último grau.

Já vimos o mundo dos negócios 'subprime' e dos esquemas ponzi, das comissões milionárias da corretagem e dos CEO sem escrúpulos, ser descrito como uma alcateia relativamente bem comportada e, sobretudo, dotada, a par da ganância, do comum instinto de sobrevivência. O truque de Madoff durou décadas e ludibriou os que se consideravam mais informados, independentemente da corrupção estimada.

Mas Jordan Belfort (Di Caprio), o 'Lobo de Wall Street' e os idólatras do seu estilo 'toque de Midas' confundem-se com uma seita de suicidas sem outra ideia além do orgasmo financeiro, da perpétua libação aos deuses da morte.

A seita acaba por cair nas malhas da 'justiça', pelo crime, a fuga aos impostos (como Al Capone), e as tentativas de suborno. A contínua intoxicação pelas drogas e a falta de 'aprumo' capitalista, são coisas inconcebíveis em quem sabe fazer as coisas bem feitas, guardando o lucro e distribuindo generosamente a miséria. São esses os senhores do mundo de hoje, cheios de prestígio (que, nas nações - e nas grandes organizações - é uma categoria imperial), por maior que tenha sido a sua responsabilidade na crise actual e no desespero de milhões de pessoas.

Scorsese, evidentemente, mostra-nos toda essa demência, mas parece, no final da história, querer justificá-la pelas virtudes americanas do pseudo-lobo, visto que, depois do fecho da 'empresa' e da sentença cumprida, Jordan, com a tenacidade dos heróis da antiga 'fronteira', ensina aos seus compatriotas a verdadeira maneira de assaltar o 'galinheiro'.

Como 'caso clínico' que é, Jordan Belfort não pode servir de modelo ao sistema. Mas a sua 'doutrina', sendo a do 'fast dollar', tem um valor psicológico que o mesmo sistema não pode dispensar.

 

 

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