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01/05/14

O CLUBE FENIANOS PORTUENSES

Manuel Joaquim

Carnaval de 1905 - Edifício do Clube Fenianos e Teatro Águia d' Ouro (monumentosdesaparecidos.blogspot.com)


Nas mesas do café/restaurante, mais tarde também cinema, Águia d’Douro, na Praça da Batalha, em actividade desde o segundo quartel do século XIX, frequentado desde sempre por liberais e republicanos, onde as senhoras fumavam livremente em público, um grupo de personalidades portuenses tomou a iniciativa de se organizar para fundar uma associação para intervir cívica e culturalmente na vida da cidade, não esquecendo aacção recreativa e beneficente.

O Clube Fenianos Portuenses foi fundado em 25 de Março de 1904, ainda nos tempos da monarquia, com o pretexto de organizar cortejos carnavalescos a exemplo dos que se faziam no Brasil e em Veneza, com o lema, inscrito na sua bandeira, “Pelo Porto”. Os seus estatutos foram aprovados pelo Governo Civil do Porto em 17 de Junho de 1904.

O Clube Fenianos realizou o primeiro cortejo carnavalesco logo em 5 de Março de 1905, com marcha de tochas, (aux Flambeaux), com a contribuição de grandes artistas, tais como Rafael Bordalo Pinheiro; Manuel Gustavo, filho de Bordalo Pinheiro; Augusto Pina; Teixeira Lopes e muitos outros. Foi uma iniciativa que teve uma grande adesão popular e repercussões em toda a região.

No campo cívico influenciou o poder político para abolir as portagens que na época existiam para atravessar a ponte D. Luís, que afectavam directamente milhares de pessoas que se deslocavam entre a cidade do Porto e Vila Nova de Gaia, e para concretizar a sua ligação com transportes eléctricos. Teve um papel importante na conquista do “descanso dominical”. Materiais de cortejos foram cedidos à cidade de Lisboa para ajudarem na realização das festas a Santo António. Defendeu a ideia da criação de sociedades de previdência social.

Em 1907 o Clube recebeu uma delegação do Grande Clube de Lisboa que veio para participar nas suas festas. Foi recebida pela Câmara Municipal com grande significado político.

Em 1908 defendeu a criação de um sanatório marítimo para tratamento de crianças, que veio a ser uma realidade passados alguns anos, que foi o Sanatório Marítimo do Norte, em Francelos, tendo sido seu fundador o ilustre médico Dr. José Ferreira Alves, feniano, democrata e revolucionário.

A convite da Câmara Municipal do Porto colaborou nas Festas pela instauração da República Portuguesa, organizando eventos para as pessoas junto à sua sede, na Praça da Batalha.

Os carros de transporte de eixo fixo, uma inovação na época; a instalação da telefonia sem fios e linha dupla telefónica entre Lisboa e Porto e sua nacionalização; a transformação do Porto de Leixões em porto comercial; o encerramento do comércio a horas certas; a falta de carne na cidade; a luta contra a pena de morte de um compatriota condenado na Inglaterra; as comemorações do 1º centenário da Revolução de 1820; a luta contra o agravamento das tarifas telefónicas; campanha contra a extinção dos tribunais do comércio no Porto; sugestão à Companhia dos Caminhos de Ferro para a criação de passagens subterrâneas na estação de Campanhã; sugestão à Companhia Carris para a substituição dos rodados de ferro por pneus; movimento na cidade a favor de melhoramentos na barra do Douro; concurso para o fornecimento de energia eléctrica à cidade do Porto; a discutida questão sobre a criação da cidade de Leixões , foram assuntos que tiveram uma importante intervenção do Clube Fenianos Portuenses.

No campo da beneficência conseguiu distribuir logo no início das suas actividades um “Bodo Feniano” a 500 pobres nas instalações do Palácio de Cristal, na presença de muita gente. Realizou um festival no Jardim Passos Manuel para obter fundos para distribuir pelos pobres. Com essas iniciativas beneficiou várias centenas de pessoas necessitadas. Organizou uma grande subscrição pública para as vítimas do terramoto de 1909 em Benavente, conseguindo condições para a construção de 18 moradias que vieram a constituir o “Bairro Cidade do Porto”, finalizadas em 1916, que foram entregues à Misericórdia de Benavente e que ainda hoje existem. Socorreu as vítimas da cidade do Funchal, atacada pela peste bubónica. Realizou no Teatro Águia d’Douro um Sarau de Arte de apoio às vítimas da Grande Guerra, que teve a participação do ilustre advogado Dr. Alexandre Braga.

Foi o Clube Fenianos quem lançou a ideia da criação do Teatro Lírico ou Teatro Modelo, influenciando a nomeação de comissões que tiveram a presidência do Governo Civil, e que veio a ser mais tarde o Teatro S. João.

Publicou um Álbum Ilustrado, “Alexandre Zé Povinho”, que deverá estar ainda no Museu do Clube, com trabalhos de artistas portuenses.

Entretanto, em 1916, todo o seu património social foi destruído por sucessivos actos criminosos. Em 1920 iniciou-se a construção do novo edifício com a presença do Presidente da República, António José de Almeida.

Nos finais dos anos trinta e princípios dos anos quarenta, o Coral Polifónico participou em várias iniciativas, algumas com fins de caridade. Colaborou com a Emissora Nacional, gravando discos com canções regionais portuguesas, e cedendo instalações para transmissão de programas. O Clube realizou cursos de línguas e de comércio destinados aos sócios e familiares. Realizou festas infantis. Realizou uma sarau de gala no Rivoli com o Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra. Criou o Círculo de Arte Lírica. Comemorou o centenário do Cancioneiro Popular de César Neves. Fundou a “Editorial Fenianos” onde editou as conferências realizadas no Clube. Organizou a Biblioteca Infantil.

Em 1945 prestou homenagem ao ilustre Dr. Egas Moniz, Prémio Nobel da Medicina, nomeando-o Sócio Honorário do Clube.

Em 1955 criou o “Grupo de Teatro Moderno” por onde passaram Luís de Lima, António Pedro, Ionesco, Jaime Valverde e muitas outras figuras.

Está afixada à entrada da sala do teatro, no 2º andar, uma placa de homenagem a Eugene Ionesco, datada de 5 de Setembro de 1959, pelo colóquio realizado sobre “Teatro Moderno”, integrado no 1º Ciclo de Formação do Espectador.

Marcel Marceau, mímico francês, deu uma lição aos alunos do GTM, registada numa placa que também está afixada à entrada da sala do teatro com data de 15 de Janeiro de 1960.

O GTM acabou nos Fenianos em 1964, nascendo como Teatro Experimental do Porto em instalações próprias. Nasceu a Secção de Teatro dos Fenianos.

Em 1956 o Clube criou a Secção de Cultura para a Juventude, dirigida pelo Dr. Fernando Ferrão Moreira com a colaboração de muitos bons professores, com cursos de Teatro, Música, Pintura, Desenho e Cultura Portuguesa, por onde passaram centenas de jovens. Júlio Resende, Isolindo Vaz, Isidoro, Resende Dias e muitos outros registaram a sua passagem.

Foram disponibilizadas graciosamente instalações para a Orquestra Sinfónica do Conservatório de Música do Porto poder ensaiar por estar em riscos de extinção.

Em 1960 em colaboração com outras instituições consegue o reaparecimento da revista “O Tripeiro”.

(continua)

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