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01/10/14

FACEBOOKERS

António Mesquita

" A estudante holandesa Zilla van den Born, de 25 anos, usou o Photoshop para criar falsas fotos de uma viagem de férias de cinco semanas pelo sudeste da Ásia. A jovem compartilhou no Facebook as imagens da falsa viagem, segundo a imprensa holandesa."


(Globo.com10/9/2014)


Zilla mentiu à família e aos amigos para escrever uma tese. Nas suas palavras, fez isso para mostrar às pessoas que "nós filtramos e manipulamos o que a gente posta nas mídias sociais. Criamos um mundo ideal online no qual não se pode mais encontrar a realidade." (de uma entrevista ao 'Daily Mail')


Sabe-se como a 'reescrita da história' sempre existiu (na URSS de Estaline, por exemplo, Trotsky desapareceu das fotografias), muito antes da imagem digital e do Photoshop. A 'reescrita' foi sistematicamente utilizada pelos vencedores para apagar a memória dos vencidos, isto é, o passado comum, a realidade testemunhada inter-subjectivamente. A Igreja Católica impôs a sua versão dos factos, onde, por exemplo, a história dos Albigenses ficou reduzida 'à porção côngrua', ao que o poder triunfante julgasse adequado ao seu próprio engrandecimento.


Estas práticas de 'manipulação' ficavam-se, no entanto, pelo domínio da política e da ideologia oficial. A esfera doméstica não 'comunicava' com a política. Com a sociedade da informação, a 'osmose' misturou tudo; há cada vez menos independência nas 'esferas', tendo o 'doméstico' sido, entretanto, ocupado por esta versão 'soft' e democrática do 'Big Brother' que são a comunicação compulsiva e o 'feedback' obrigatório, (nem que seja reduzido à forma de um 'like').


O poder, com isto, tornou-se capilar (acompanhando a miniaturização dos suportes e transmissores da informação). A estudante holandesa mostrou-se exímia (e suficientemente amoral) para 'navegar' neste poder capilar que não conhece outra realidade para além de si próprio.


Beatificamente sem escrúpulos, para maior glória da Informação. As pessoas devem saber por um manipulador que a manipulação existe, e que está ao alcance de qualquer 'facebooker'.

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