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01/04/15

A DESIGUALDADE

António Mesquita



"A desigualdade não é necessariamente um mal em si própria: a questão chave é decidir se se justifica, se há razões para ela."

"Le Capital au XXIme. siècle" (Thomas Piketty)


Do célebre tríptico da Revolução Francesa, a Igualdade sempre permaneceu utópica (pelo menos, mais do que as duas outras ideias). Como Marx dizia, a burguesia afirmou o seu regime (que já praticamente dominava) e foi igualitária no sentido em que podia ser: derrubando o poder de casta e instaurando o poder do dinheiro. As desigualdades do dinheiro são, de facto, de outra natureza: não há homens superiores pelo nascimento e, teoricamente, um deserdado pode alcançar o poder máximo. Essa ínfima probabilidade serve de alibi para os inimigos da ideia igualitária, mas corresponde a algo de novo e 'progressista' em relação à sociedade aristocrática.

Ora, o novo astro da economia vem dizer uma coisa que devia ser óbvia, mas que permanece um tema de perpétua divisão entre os filhos da Revolução (sobretudo os que se sentem como tal). A história dá-nos sobejos exemplos de sociedades desiguais, em maior ou menor grau, mas, infelizmente, não encontramos um só exemplo de uma sociedade que não desminta o seu credo igualitário pelo modo como se tem de organizar. Porque a verdade é que as funções necessárias à vida social reintroduzem o princípio da desigualdade obrigatoriamente. O poder é um factor mais do que óbvio dessa desigualdade.

A ex-URSS é a melhor sebenta dessa realidade. Os operários no poder já não se podem comportar como se ainda lidassem com as antigas máquinas, mas têm de se comportar de acordo com as suas novas funções.

Digamos que esse é o nível da desigualdade justificada, como lhe chama Piketty, pela natureza da própria sociedade organizada. Existem, nesses casos, razões incontornáveis para a desigualdade.

A questão que se põe é se essa desigualdade 'orgânica' não abre o caminho para todas as outras e se, então, o ideal da justiça não teria de se conformar com o controle dos abusos...

É evidente que esse controlo seria do próprio interesse da maioria dos 'privilegiados'.







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