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01/11/15

A BELA E O MONSTRO


Mário Faria
"La Belle et la Bête" (Jean Cocteau)


Ela tem 22 anos: é uma menina, graciosa e simpática. Ele tem 42 anos: é careca, mal-amanhado e bronco. O tipo seduziu a pequena que parece ter ficado apaixonada. O pai da jovem,  resolveu   intervir  junto dele: ameaçou-o  e    agrediu-o. O tipo respondeu e deu-lhe uma tareia. Muita correria, gritaria e sangue a rodos. A polícia interveio e impôs a ordem. O irmão que trabalhava com ele emigrou para parte incerta. Passou a dominar a loja com total soberania e tem agora ao seu serviço: a pequena, a mãe e a tia dela. Entretanto, assinou tréguas com o pai dela que se passeia por perto numa de controlo à distância. Apesar da paz estabelecida, o pai continua muito desconfiado das boas intenções dele: um “burgesso”, separado recentemente da mulher e pai de dois filhos que o detestam, não pode ser boa rês, como diz à boca cheia. De vez em quando, na loja, ouve-se uma berraria nas zonas de confecção, para pouco depois sair tudo a rir às gargalhadas. De-quando-em vez, ele aparece ao balcão, com um fato de trabalho pouco limpo, com a barba por fazer e uma mata de pelos em exposição no peito e nas costas, para atender fornecedores ou para dar ordens ao pessoal, quase sempre de forma grosseira. Esta exposição dele, não cai bem na clientela. Apesar disso, a situação parece controlada (o serviço nem por isso) e ela continua gaiata, simpática e dá sinais de se sentir em paz e feliz, no comando repartido com ele. O equilíbrio familiar é frágil, o negócio incerto. O amor é estranho. Ela é bela, ele um bruto. Que tipo detestável!

Pensava no título para esta estória de gente cá do bairro, quando surge na pantalha televisiva o inenarrável Cava Silva para anunciar que iria indigitar Passos Coelho para formar governo e avisar que uma maioria de esquerda vai no Batalha. Tenho seguido o debate com atenção: o clima de ódio parece instalado por parte da direita e alguns senadores passaram-se dos carretos (Vasco Pulido Valente, António Barreto, Manuela Ferreira Leite….) cada um com o seu registo, mas todos eles unidos na condenação da esquerda ao eterno limbo político. A maioria da comunicação social soçobrou aos ditames do TINA, seja por militância ou por conveniência. O processo reacionário em curso está em marcha; a democracia fica suspensa até à vitória eleitoral de quem merece o mandato de governar: a direita domina todos os recursos para o efeito. A luta de classes no auge, apesar da sua recomposição. Vai ser muito bom assistir e, se possível, participar nesta desigual luta pela justiça social. O Monstro totalitário espreita, sob o manto diáfano do capitalismo global. A luta tem de continuar. A direita é de desconfiar, até prova em contrário.

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