StatCounter

View My Stats

01/01/16

A EXPULSÃO DOS DEMÓNIOS

António Mesquita


www.washingtonindependentreviewofbooks.com



"A expulsão dos demónios do corpo dessas infelizes pessoas a quem lhes tinha sido permitido atormentar, era considerada como um sinal, embora comum, do triunfo da religião, e é uma repetida alegação dos antigos apologistas como a prova mais convincente da verdade da Cristindade (...) e ouvia-se o demónio vencido confessar que era um dos deuses de fábula da antiguidade que tinha usurpado a adoração da humanidade."

"The History of the Decline and Fall of the Roman Empire"
(Edward Gibbon)

Os primeiros tempos do Cristianismo foram verdadeiramente tempos de superstição e de trevas. Um novo deus tentava impor-se na consciência e nos costumes das populações 'migrantes' da religião 'usurpadora'. O combate era íntimo e de todos os instantes.

Só com a perspectiva histórica compreendemos que há aqui qualquer coisa que merece o nome de 'progresso', o que supõe que tempos mais antigos deveriam ainda ser mais autenticamente tenebrosos, mesmo no momento mais vivo e luminoso da nova religião.

A história linear, contudo, é uma fábula 'materialista'. Ou melhor, a própria história é o conto que melhor nos serve. Não valemos mais do que os antigos, nem compreendemos o nosso mundo melhor do que eles compreenderam o deles.

Os exemplos de que o tempo dos vivos e dos mortos (por séculos e séculos que tenham passado) apresenta uma estranha simultaneidade, em vez de uma linearidade irreversível, são impressionantes. Nem é preciso lembrar a forma como um profeta árabe do século sexto da nossa era se tornou um contemporâneo da Internet. A 'expulsão dos demónios' do corpo foi realmente tentada por Freud e os seus discípulos. De resto, os mitos da Antiguidade nunca deixaram de enquadrar o nosso 'livre pensamento'.

"Os mortos governam os vivos", dizia Auguste Comte.



Sem comentários:

View My Stats