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01/08/16

CICUTA



António Mesquita



(La mort de Socrates, J.L. David)


"A Necessidade é um laço que nos cerca, uma corda cheia de nós (peîrar) que retém tudo no seu limite (péras). 'Deî', 'é necessário', palavra fundadora, aparece pela primeira vez na 'Ilíada': "Por que é necessário (deî) que os Argivos entrem em guerra contra os Troianos?"

(Roberto Calasso)

Lawrence volta atrás nas 'Bigornas do Sol' para trazer o nómada que caiu do camelo, quando todos já o tinham abandonado à sua sorte. No regresso, diz apenas: "- Nada está escrito." O seu gesto era a lição do 'Ocidente', contra o fatalismo dos povos do deserto.

Mas os Gregos aprenderam outra coisa. A noção de limite, a que os próprios deuses estavam submetidos. Zeus é 'obrigado' a metamorfosear-se para conseguir obter os favores de uma ninfa. E Hera, a esposa, tem de contemporizar, de uma maneira ou de outra. Eram deuses demasiado humanos, demasiado políticos? Sem dúvida. Comte diria que não tinham ainda atingido a idade teológica, em que se perde o limite terreno.

Poderemos falar em necessidade a propósito do mundo quântico? Num primeiro juízo parece que não. Mas desprezámos as outras dimensões. E quando se fala em mundos dentro de mundos, a contradição não é, talvez, mais do que retórica.

Quando as doutrinas económicas se tornaram uma espécie de consenso mínimo entre as elites, podemos reconhecer nos seus argumentos a antiquíssima ideia da Necessidade. Mas travestida em 'ciência', 'realismo', 'lei da vida' ou outra coisa qualquer.

É o 'Tina', são os gurus. Sócrates ainda teve tempo de aprender música. Mas agora devemos ter como o único pensamento a cicuta regulamentar.


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