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01/02/17

VIVER (N)O FUTURO


Mário Martins


http://expresso.sapo.pt/Capaso



Diz-se que a vida é o presente e de facto, em rigornada aconteceu no passado mas sim no presente que passou (e que ficou ou não na nossa memória individual e colectiva)tal como nada acontece no futuro mas sim no presente que há-de sucederO que poderá parecer um simples jogo de palavras traduz, no entanto, as nossas dificuldades em reconstituir fielmente o passado ou em predizer o futuro. Mas apesar de o futuro não poder ser mais do que uma probabilidade de acontecimentos ou uma espécie de nuvem depositária de esperanças e temores mais ou menos indefinidos, ele ocupa boa parte das nossacabeçasSe no quotidiano dedicamos uma permanente atenção de algum modo antecipamos as sensações, boas ou más, do que vamos fazer logo ou mais tarde, no plano colectivo os analistas esforçam-se por prever que aí vem”

É com este sugestivo título que o último número do ano findo da revista do semanário Expresso se abalança a prever o futuro. Ricardo Costa, numa abordagem política aparentemente bem armadaprofecia: “Eis o resumo do futuro do mundo: terrorismo, crise dos refugiados, ressurgimento da xenofobia, proteccionismo comercial, aparente escalada nuclear e implosão dos sistemas partidários. E algo de bom? Sim, claro. Vamos (os portugueses) estar longe de tudo isto. Como sempre estivemos.”. E Daniel Oliveira, num artigo mais estrutural intitulado “O admirável mundo sem emprego”, alerta: “O medo de um mundo sem trabalho é tão antigo como a tecnologia. Só que estamos perante uma alteração sem paralelo na História. Pela rapidez e pela capacidade de as máquinas garantirem o seu próprio desenvolvimento, dispensando-nos de quase tudo”. Para o analista, o modelo de negócio da indústria registará, nos próximos quatro anos, o impacto da robótica, dos transportes autónomos, da inteligência artificial, dos materiais avançados, da biotecnologia.

A previsão de Ricardo Costa estaria logicamente certa se visasse, especificamente, o lado negro do futuro do mundo (admitindo, sem discutir, que o proteccionismo comercial e a implosão dos actuais sistemas partidários sejam ocorrências negativas), mas assim como a lua não tem  um lado “escuro”, não é expectável que o mundo de amanhã não tenha também um lado brilhante.

Já a antevisão de um mundo em que o trabalho é, por saltos evolutivos cada vez mais rápidos, desempenhado por máquinas, parece bastante plausível, face à realidade actual e, sobretudo, aos anunciados desenvolvimentos da robótica e da inteligência artificial. Verdadeiramente ninguém sabe o que aí vem e, muito menos, as dramáticas implicações da conversão do trabalho em lazer, para a qual nem sequer conceptualmente estamos preparados. Sem referencial no passado a que nos agarrarmos, resta-nos ter esperança na formidável capacidade de adaptação humana.

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