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01/04/17

30 ANOS DEPOIS


Mário Martins



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“Eu nunca desmenti o PREC; o sempre assumido PREC.”

29 de Janeiro de 1983
Coliseu dos Recreios – Lisboa
José Afonso

Trinta anos depois da morte de José Afonso, o que posso dizer é que cresci politicamente ao som do seu canto. Em finais de 1973, na oposição semi-clandestina levada a cabo por uma Comissão de Freguesia do MDP-CDE, trauteávamos a recente “Venham mais cinco”. E poucos dias depois do 25 de Abril tive a sorte de assistir ao I Encontro Livre da Canção Popular, no Palácio de Cristal, no Porto, onde proferiu a frase premonitória: “Agora vão surgir outros vampiros”.

É realmente justo dizer que o grande compositor e poeta da canção popular é, ou foi, o rosto da utopia, tanto nos fins como nos meios. Combateu política e, sobretudo, culturalmente, a ditadura e o capitalismo amparado pelo regime; sempre defendeu uma sociedade livre e igualitária; e avesso a comandos partidários - disse um dia que “o meu comité central sou eu” – privilegiava a participação e a organização política de base.

Três décadas volvidas sobre a sua morte, o socialismo partidariamente dirigido deu no que deu e a alternativa do “poder popular” nunca foi experimentada nem é fácil vislumbrá-la num futuro previsivelmente dominado pela aceleração do novo PREC (processo revolucionário de automatização e robotização em curso), que constitui uma ameaça sem precedentes ao valor do trabalho, enquanto base das condições materiais de existência e aglutinador social.

Para lá do seu incontornável exemplo e da inegável valia do seu legado artístico, ficou a utopia que, por definição, é o que não pertence a nenhum lugar mas que, segundo a escritora Joanna Russ, “representa a parte de sonho indispensável a quem quer autenticamente construir o real”.

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